william zeytounlian

 

William Zeytounlian es un poeta brasileño, nacido en São Paulo en 1988. Graduado en Historia, el autor desarrolla hoy un trabajo de investigación acerca de la Historia del siglo XVII, una “Historia de los comportamientos silenciosos”, a partir de tratados y máximas morales de la época de Luís XIV. El poeta y traductor vive y trabaja en São Paulo. Traducción al castellano por Paula Abramo, al inglés por Francesca Cricelli, seguidas del original portugués.

§

William Zeytounlian is a Brazilian poet, born in São Paulo in 1988. The author studied History, and today develops his research work on the History of the 17th century, a “History of silent behaviors”, based on treaties and moral maxims from the time of Louis XIV. William Zeytounlian lives and works in São Paulo. Spanish translation by Paula Abramo, English translation by Francesca Cricelli, followed by original in Portuguese.

§

William Zeytounlian é um poeta brasileiro, nascido em São Paulo em 1988. Formado em História, o autor desenvolve hoje um trabalho de pesquisa sobre a História do século XVII, uma “História dos comportamentos silenciosos”, a partir de tratados e máximas morais da época de Luís XIV. O poeta e tradutor vive e trabalha em São Paulo. Tradução de Paula Abramo para o castelhano, de Francesco Cricelli para o inglês, seguidas do original em português.

§

POEMA/POEM/POEMA

 

RESISTENTE (1964-1985)

“– come si chiama la tua ragazza?
– Margherita”.
P. P. Pasolini

toda
la cuenta
está hecha:

acto final,
evidencia
contrahecha.

yo soy
el cáliz
sacrificial.

yo soy
el cáliz
sacrificial
en el altar.

yo soy
el cáliz
sacrificial
en el altar
y su
contenido
mismo.

yo soy
el chivo
el borde
del cuchillo,

yo soy
el hombre
desnudo.

yo soy
el grito

yo soy
el grito
inquieto

yo soy
el grito
inquieto
que busca
el oído.

yo soy
el grito
inquieto
que busca
el oído
que busca
el gozo.

yo soy
el gozo.

yo soy
el gozo
atroz.

yo soy
el gozo
atroz e
inquieto.

yo soy
el gozo
atroz e
inquieto
del esbirro;

del esbirro
inquieto.

yo soy
el olvidado

yo soy
la arena
que me
entierra.

yo soy
la tumba
que se
cierra.

yo soy
este objeto
decorativo

este
objeto
olvidado
colgando.

yo soy
esta gota
que me
escurre

yo soy
esta gota
que me
escurre
ahora.

yo soy
el sueño
que se
agota

el sueño
que se
agota
en mí.

yo soy
la encrucijada
de aciertos,

el emblema
del escrúpulo

un gesto,
un estupro,
la vida desnuda.

yo soy
un error
de la virtud.

yo soy
mi
duda.

1 IV 2014 – 50 años después del golpe.

(Traducción de Paula Abramo)

§

RESISTANT (1964–1985)
translated by Francesca Cricelli

“- come si chiama la tua ragazza?
– Margherita.”
P. P. Pasolini

all
math
done:

final act,
counterfeit
evidence.

I am
the sacrificial
chalice.

I am
the sacrificial
chalice
at the altar.

I am
the sacrificial
chalice
at the altar
and its own
content.

I am
the goat
on the brink
of the escape,

I am
the bare
man.

I am
the scream

I am
the restless
scream

I am
the restless
scream
that seeks
the ear.

I am
the restless
scream
that seeks
the ear
that seeks
to gust.

I am
the gust.

I am
the atrocious
gust.

I am
the atrocious
restless
gust.

I am
the atrocious
and restless
gust
of the
headsman;

of the restless
headsman.

I’m the
forgotten

I’m the
sand in
which I
sink

I’m the
grave
that shuts
away.

I am
this decorative
object

this
forgotten
hanging
abject.

I am
this drop
that drips
from me

I am
this drop
dripping
from me
now.

I am
the
depleted
dream

the dream
depleted
in me.

I am
the crossroads
of righteousness,

the emblem
of scruple

a gesture,
a rape
the bare life.

I am
the error
of virtue.

I am
my
doubt.

1 IV 2014 – 50 years of the coup d’état in Brazil.

(Translated by Francesca Cricelli)

§

RESISTENTE (1964–1985)

“– come si chiama la tua ragazza?
– Margherita”.
P. P. Pasolini

toda
a conta
feita:

ato final,
evidência
contrafeita.

eu sou
o cálice
sacrificial.

eu sou
o cálice
sacrificial
no altar.

eu sou
o cálice
sacrificial
no altar
e seu
próprio
conteúdo.

eu sou
o bode
à borda
da faca,

eu sou
o homem
desnudo.

eu sou
o grito

eu sou
o grito
inquieto

eu sou
o grito
inquieto
que busca
o ouvido.

eu sou
o grito
inquieto
que busca
o ouvido
que busca
o gozo.

eu sou
o gozo.

eu sou
o gozo
atroz.

eu sou
o gozo
atroz e
inquieto.

eu sou
o gozo
atroz e
inquieto
do algoz;

do algoz
inquieto.

eu sou
o esquecido

eu sou
a areia
que me
enterra.

eu sou
a cova
que se
encerra.

eu sou
este objeto
decorativo

este
abjeto
esquecido
pendendo.

eu sou
esta gota
que me
escorre

eu sou
esta gota
que me
escorre
agora.

eu sou
o sonho
que se
esgota

o sonho
que se
esgota
em mim.

eu sou
a encruzilhada
de acertos,

o emblema
do escrúpulo

um gesto,
um estupro,
a vida nua.

eu sou
um erro
da virtude.

eu sou
a minha
dúvida.

1 IV 2014
(50 anos do golpe)

Image

Alejandro Albarrán is a Mexican poet, born in Mexico City in 1985. He has published Ruido (Mexico City: Bonobos, 2012). He works with textual, visual and sound poetry. English translation by Robin Myers and Portuguese translation by Ricardo Domeneck, followed by original in Spanish.

§

Alejandro Albarrán é um poeta mexicano, nascido na Cidade do México em 1985. Estreou em livro com Ruido (Cidade do México: Bonobos, 2012). Trabalha com poesia visual, vídeoarte e poesia sonora. Tradução para o inglês por Robin Myers, para o português por Ricardo Domeneck, seguidas do original em castelhano.

§

Alejandro Albarrán es un poeta mexicano, nacido en el DF en 1985. Su primer libro se titula Ruido (México, Bonobos, 2012). Trabaja con poesía textual, visual y sonora. Traducción al inglés por Robin Myers y al portugués por Ricardo Domeneck, seguidas por el original en castellano.

§

POEM/POEMA/POEMA

 

A C C U M U L A T I O N

Accumulation, I’m swelling up. I’m finding the mimesis in
the drowned. In my tumescent body. I’m your container,
I’m your whore. I’m filling up. I’m getting satisfied, I’m
brimming with myself, I’m touching all my brims with
brims, touching myself with corners on my corners.
Gerund, I’m a distension, it’s me exaggerated, exacerbated.
I need an exit. A vanishing point or I’ll overflow, flowed
over, I’m, accumulation. I’m a carafe. A gradual accident.
A blunder or a bathtub filling to its rim. An exit or I’ll
burst. A street, a clearing, so I can leave myself, flowed
over, yes, amid the scenery. Accumulation, I’m going
under, like a Nautilus, I cave in.

*

That is: I need to unbecome myself. Confuse myself. Be,
for example, you. Be your wet dream. Your nightmare.
Your special love. Your man of action. Your postponement,
your crucifixion: your crucifix. The bloodstain in your
maxi pad. Your virgin saint, your Ecclesiastes, your fear of
change, your change, in coins of small denominations, I’m
your decision, I’m your exchange. Your fight against
yourself, I’m you because you see yourself in me. Within
my image. Be afraid of me, for I’m the devil, your velvet
Christ, I am, I am your fear, your fear of you.

*

I’m the empress of beetles, in your pubis I’m a horse’s
haunch, in your hair a stomachache, your symptom of
affliction, I’m affliction, depraved by voices, on occasion,
by many voices that erase me, this is me: the erasure, my
erasure, the vindication of myself in nothing.

*

Become confetti or ferocious fruit, become, for I am
shedding sex. For you. I’m leaving it inside the bureau like
a stake, a crucifix. Turn around: a lamp that shines (and
now it shines), an alliteration in our vicinity. An
alliteration: a song that no one sings because it’s
frightening.

*

So spoke my eyeless horse: “sing in my intestines,” “show
me the scenery.” Education. My horse told me: “come run
with me in my intestines,” it told me in the morning, from
my stomach, it told me from the vertigo, it told me from my
trotting broth, inside my belly, in my excitement, my
eyeless horse, my road-starved colt. I’m road, unfinished
journey is my prayer. Now I sing to it, I take it to the
mountain for it to neigh.

(translated by Robin Myers)

§

A C U M U L A Ç Ã O


Acumulação, estou inchando. Encontrando
o mimetismo nos afogados. Em meu corpo
tumefato. Sou teu continente, sou tua putinha.
Estou ficando cheio. Estou saciando-me, abarrotando-me
de mim, estou tocando a mim nas quinas com quinas, em
minhas esquinas estou me tocando com esquinas. Gerúndio,
sou inchação, sou eu exagerado, exacerbado. Necessito
uma saída. Um ponto de fuga ou me transbordo, transbordado,
sou, acumulação. Sou botijão. Um acidente paulatino.
Um desatino ou pia de batismo cheia até as bordas.
Uma saída ou me arrebento. Uma rua, um descampado,
para sair de mim, transbordado sim, na paisagem.
Acumulação, estou afundando, como um náutilo, vou
abaixo.

*

Isto é: necessito não ser eu. Confundir-me. Ser tu,
por exemplo. Ser teu sonho úmido. Teu pesadelo. Teu
amor especial. Teu homem de ação. Tua postergação,
tua crucificação: teu crucifixo. A mancha de sangue
em tua toalha. Tua santa virgem, teu Eclesiastes,
teu medo da troca, tua troca, em moedas de pequena monta,
sou tua eleição, teu escambo. Tua luta contra ti, sou teu
porque tu te vês em mim. Em minha imagem. Tem
medo de mim, sou o diabo, teu Cristo de veludo em pelo,
sou, sou teu medo, teu medo de ti.

*

Sou a imperatriz dos escaravelhos, em teu púbis
sou a anca de um cavalo, em teu cabelo sou a dor
de estômago, sou teu sintoma maligno, sou o mal,
o pervertido de vozes, às vezes, de muitas vozes
que me cancelam, sou isso: a anulação, minha
anulação, a vindicação de mim em nada.

*

Torna-ste confete ou fruta furibunda, torna que
estou retirando meu sexo. Por ti. Estou deixando-o
no bureau como uma estaca, um crucifixo. Dá a volta:
um abajur que brilha (e agora brilha), uma aliteração
em nosso entorno. Uma aliteração: canção que ninguém
canta porque espanta.

*

Meu cavalo sem olhos me disse: “canta em meu
abdômen”, “mostre-me a paisagem”. Aprendizagem.
Meu cavalo me disse: “vem correr comigo em
meu abdômen”, me disse in the morning, dentro
do meu estômago, me disse na tontura, do meu
trotar de açorda, em meu ventre me disse, em minha
emoção, meu cavalo sem olhos, meu potro com fome
de caminho. Sou caminho, trajeto inconcluso é minha
oração. Agora o canto, levo-o ao monte, para que relinche.

(tradução de Ricardo Domeneck)

§

A C U M U L A C I Ó N
Alejandro Albarrán


Acumulación, me estoy hinchando. Encontrando
el mimetismo en los ahogados. En mi cuerpo
tumefacto. Soy tu contenedor, soy tu putita. Me
estoy llenando. Me estoy saciando, colmándome
de mí, me estoy tocando en las aristas con aristas,
en mis esquinas me estoy tocando con esquinas.
Gerundio, soy hinchazón, soy yo exagerado,
exacerbado. Necesito una salida. Un punto de
fuga o me desbordo, desbordado, soy,
acumulación. Soy garrafa. Un accidente paulatino.
Un desatino o tina que se llena hasta sus bordes.
Una salida o me reviento. Una calle, un
escampado, para salirme de mí, desbordado sí, en
el paisaje. Acumulación, me estoy hundiendo,
como un Nautilus, me vengo abajo.

*

Esto es: necesito no ser yo. Confundirme. Ser tú,
por ejemplo. Ser tu sueño húmedo. Tu pesadilla.
Tu amor especial. Tu hombre de acción. Tu
postergación, tu crucifixión: tu crucifijo. La
mancha de sangre en tu toalla sanitaria. Tu santa
virgen, tu Eclesiastés, tu miedo al cambio, tu
cambio, en monedas de baja denominación, soy tu
elección, tu trueque. Tu lucha contra ti, soy tú
porque te ves en mí. En mi imagen. Tenme miedo
soy el diablo, tu Cristo de terciopelo, soy, soy tu
miedo, tu miedo a ti.

*

Soy la emperatriz de los escarabajos, en tu pubis
soy el anca de un caballo, en tu cabello soy dolor
de estómago, soy tu síntoma de mal, soy el mal, el
pervertido de voces, a veces, de muchas voces que
me anulan, soy eso: la anulación, mi anulación, la
vindicación de mí en nada.

*

Vuélvete confeti o fruta furibunda, vuélvete que
me estoy quitando el sexo. Por ti. Lo estoy
dejando en el buró como una estaca, un crucifijo.
Date vuelta: una lámpara que brilla (y ahora
brilla), una aliteración en nuestro entorno. Una
aliteración: canción que nadie canta porque
espanta.

*

Mi caballo sin ojos me dijo: “canta en mis
entrañas”, “enséñame el paisaje”. Aprendizaje. Mi
caballo me dijo: “ven a correr conmigo en mis
entrañas”, me lo dijo esta mañana, desde mi
estómago, me lo dijo desde el vértigo, desde mi
trote caldo, en mi vientre me lo dijo, en mi
emoción, mi caballo sin ojos, mi potro hambriento
de camino. Soy camino, trayecto inconcluso es mi
oración. Ahora le canto, lo llevo al monte, a que
relinche.

.

.

.

Image

Edimilson de Almeida Pereira is a Brazilian poet, born in Juiz de Fora, in 1963. He has published “Dormundo” (1985), “Livro de falas” (1987), “Árvore dos Arturos & outros poemas” (1988), “Corpo imprevisto & Margem dos nomes” (1989), “Ô lapassi & outros ritmos de ouvido” (1990), Corpo vivido: reunião poética (1991), O homem da orelha furada (1995), Rebojo (1995), and Águas de Contendas (1998), among others. He is also the author of studies such as “The drums are cold: cultural heritage and religious syncretism in the Candombe ritual” (2005). Edimilson de Almeida Pereira lives and works in Juiz de Fora, Brazil. Original poems in Portuguese, and translations by Ísis McElroy & David Treece (English) and Paula Abramo (Spanish).

§

Edimilson de Almeida Pereira es un poeta brasileño nacido en Juiz de Fora, Minas Gerais, en 1987. Ha publicado los libros de poesía Dormundo (Juiz de Fora: D’Lira, 1985), Livro de falas (1987), Árvore dos Arturos & outros poemas (1988), Corpo imprevisto & Margem dos nomes (1989), Ô lapassi & outros ritmos de ouvido (1990), Corpo vivido: reunião poética (1991), O homem da orelha furada (1995), Rebojo (1995),Águas de Contendas (1998), A roda do mundo (1996, com Ricardo Aleixo), entre otros. Es Maestro en Literatura Portuguesa (UFRJ), Maestro en Ciencia de la Religión (UFJF), Doctor en Comunicación y Cultura (UFRJ) y profesor en el Departamento de Letras de la Universidad Federal de Juiz de Fora. Sus textos han sido traducidos y publicados en Inglaterra, Italia, España, Francia, Portugal y los Estados unidos. Poema original en portugués, seguidos de traducciones al inglés (Ísis McElroy & David Treece) y al castellano (Paula Abramo).

§

Edimilson de Almeida Pereira nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 1963. Estreou com o livro Dormundo (Juiz de Fora: D’Lira, 1985), seguido de Livro de falas (1987), Árvore dos Arturos & outros poemas (1988), Corpo imprevisto & Margem dos nomes (1989), Ô lapassi & outros ritmos de ouvido (1990), Corpo vivido: reunião poética (1991), O homem da orelha furada (1995), Rebojo (1995),Águas de Contendas (1998), A roda do mundo (1996, com Ricardo Aleixo), entre outros.  É Mestre em Literatura Portuguesa (UFRJ), Mestre em Ciência da Religião (UFJF), Doutor em Comunicação e Cultura (UFRJ) e professor no Departamento de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora. Seus textos foram traduzidos e publicados na Inglaterra, Itália, Espanha, França, Portugal, Alemanha e Estados Unidos.

§

POEMAS/POEMS/POEMAS

Casa

Em parte queremos
a tecelagem
do oceano.
Cosemos para judas.

Por não estarmos aqui
ruminamos
E o resíduo da morte
(tão mais poderoso).

Em parte alugamos
o sal.
Em parte vamos levá-lo.

E não estamos casados.
E não estamos
sobre a terra: o
oceano nos tece.

E sob que fortuna
ou inferno
vigiamos: para judas
o frágil manto.

:

Home

In part we want
the weaving
of the ocean.
We sew for judas.

Since we’re not here
we ruminate
And the residue of death
(so more powerful).

In part we rent
the salt.
In part we’ll take it with us.

And we’re not married.
And we’re not
on the ground: the
ocean weaves us.

And under what fortune
or hell
we look out: for judas
the fragile mantle.

(Translated by Ísis McElroy)

:

Casa
En parte queremos
las tejedurías
del océano.
Cosemos para judas.

Por no estar aquí
rumiamos.

Y el residuo de la muerte
(tan más poderoso).

En parte rentamos
la sal
En parte nos la llevaremos.

Y no estamos casados.
Y no estamos
sobre la tierra: el
océano nos teje.

Y bajo qué fortuna
o infierno
vigilamos: para judas
el frágil manto.

(traducción de Paula Abramo)

§

Na casa da palavra

os homens que falam poeira cadê sua miséria
comentam o motivo de falarem poeira cadê
sua miséria.

Poeira cadê sua miséria não é só poeira cadê
sua miséria: mas o ovo de outras coisas.

Os homens que falam poeira cadê sua miséria
se vestem de poeira cadê sua miséria. Eles se
conhecem desde-o-ó-do-mundo pela música
que poeira cadê sua miséria faz neles.

O modo de falar poeira cadê sua miséria deixa
a língua no sal.

Os homens que falam poeira cadê sua miséria
treinam de usá-la. E nunca repetem o que dis-
seram no camaleão poeira cadê sua miséria.

:

In the house of word
The man who say dust, what of your misery remark
why they say dust, what of your misery.

Dust, what of your misery is not just dust, what of
your misery: but the egg of other enormities.

The men who say dust, what of your misery are
clothed in dust, what of your misery. They have known
themselves since-the-Great-O-of-the-world by the music
that dust, what of your misery makes in them.

This manner of saying dust, what of your misery leaves
the tongue salt-coat.

The men who say dust, what of your misery practise
wearing it. And they never repeat what they have said
dressed in the chameleon of dust, what of your misery.

(Translated by David Treece)

:

En la casa de la palabra

los hombres que dicen polvo dónde está tu miseria
comentan el motivo por el que dicen polvo dónde está
tu miseria.

Polvo donde está tu miseria no es sólo polvo dónde está
tu miseria: sino el huevo de otras cosas.

Los hombres que dicen polvo dónde está tu miseria
se visten de polvo dónde está tu miseria. Se
conocen desde que el mundo es mundo por la música
que polvo dónde está tu miseria toca en ellos.

El modo de decir polvo dónde está tu miseria pone
la lengua en sal.

Los hombres que dicen polvo dónde está tu miseria
prueban a usarla. Y nunca repiten lo que di-
jeron en el camaleón polvo donde está tu miseria.

(Traducción de Paula Abramo)

.

.

.

Picture 3

 

Robin Myers is a contemporary American poet and translator, born in New York City in 1987. She graduated in Latin American Studies from Swarthmore College, and has translated from the Spanish several contemporary Latin American poets such as Ezequiel Zaidenwerg, Alejandro Crotto, Daniel Saldaña París and Alejandro Albarrán. She has poems published in Spanish translations in the magazines “Letras Libres” (Mexico), “Laberinto”, “Metropolis” (Mexico) and “Ventizca” (Argentina). Original followed by Spanish (Ezequiel Zaidenwerg) and Portuguese (Ricardo Domeneck) translations.

§

Robin Myers é uma poeta norte-americana, nascida em Nova Iorque em 1987. Graduou-se em Estudos Latino-americanos pela Swarthmore College e traduziu do espanhol vários poetas contemporâneaos latino-americanos, como Ezequiel Zaidenwerg, Alejandro Crotto, Daniel Saldaña París and Alejandro Albarrán. Seus poemas, traduzidos para o castelhano, têm sido publicados em revistas como “Letras Libres” (México), “Laberinto” (suplemento cultural do jornal mexicano El Milenio), “Metropolis” (México) e “Ventizca” (Argentina). Robin Myers vive na Cidade do México, onde trabalha como tradutora. Original seguido de traduções para o castelhano (Ezequiel Zaidenwerg) e português (Ricardo Domeneck).

§

Robin Myers es una poeta estadunidense (Nuebva York, 1987). Ha estudiado Estudios Latinoamericanos en la Swarthmore College y traducido vários poetas contemporáneos de Latinoamerica, como Ezequiel Zaidenwerg, Alejandro Crotto, Daniel Saldaña París and Alejandro Albarrán. Publicó poemas en las revistas “Letras Libres” (México), “Laberinto” (suplemento cultural do jornal mexicano El Milenio), “Metropolis” (México) e “Ventizca” (Argentina). Robin Myers vive en México D.F.

:

POEM/POEMA/POEMA

Conflations

The house is always a new house,
and the language is rarely my own.
Even when I choose to speak,
I am unready.

*

Your fruits,
your stones,
the stones of your fruit,
your ruined forests,
the forests of your ruin —
your desolation,
your spindly horses,
your wind,
your windows,
your pickled roots,
your improbable strawberries,
your bread stretched thin —
your bloody knuckles,
your empty fountains,
your modest mountains,
your abandoned tires,
the remnants of your patience,
the traffic of your grief —

*

I find myself in good health.
I find myself en route.
I find myself impatient.
I find myself in a city continually razed to the ground.
I find myself in the basement bathroom of a glass-paneled shopping mall.
I find myself unable to tolerate even the idea of forgetting
how you put your hands all over my face,
how with all the skin of your hands you touch
all the skin of my face, like air.
I find myself without a language here.

I find myself galled by the unevenness of the sidewalk between
what we do and do not do.
And where.
And how we stumble there.

And where are you?
In which of the countless absurdities of intimacy,
by which I mean geography,
memory, airports, and air,
are you?

*

The stripped hills
arch, exhale into where
the roads are going —

the sky wills them
closer, but will refuse
to let them in.

The roads are thin,
tense remainders, scratched
as by a nail on skin,

as if to say, later
you will still remember
what I have done to you.

*

Who are you that licks the salt from your fingers in the neighbor’s house?
Who are you that sleeps through the gunshots?
Who are you that refuses to translate what you spell on my back?
Who are you that weeps while swearing at the policeman?
Who are you that lets me leave the table with the rice still burning in the pain
between us?

*

Your brooms,
your bleach,
your stubborn roofs,
your squalling cats,
the wild swerve of your gentleness,
your generous contempt —
your scarves,
your sweat,
the endless, dusty detours of your regret —
your sandstorms of longing,
your weary fires,
your metal pipes,
your swollen figs,
your reddened eyes,
your insistence on being the first to go,
or the last to stay —
your garbage pits,
your pastry shells,
your laughter,
your faith’s unfiltered cigarette —
your midnight funerals,
your raging trucks,
your rage,
your breath when you sleep,
your teeth on my neck,
your masks,
your lust —

*

We find ourselves making love, suddenly, having just been on the verge of doing something else, like going to the laundromat. Soon I find myself teetering on the edge of some precipice, at a great height, already shivering from what it will be like to arrive at the bottom — finding myself almost already shattered on impact, the shock already shock, the pain already pain, the joy already joy — and, trembling on the tiptoes of my breath, I find myself weeping, my face close to your face, your face suddenly resembling mine in bafflement only, begging you, almost demanding, “How do I join you?”

*

The house is always a new house,
and the curtains remain unhung,
and I sleep honestly, murkily, waking often
and without any intuition of my distance
from the ocean or the car crash on the freeway,
from the army base or the orchards,
from anywhere cleaner or more devastated
or more drenched with bugambilia
or more clogged with clouds than here.
Slowly, it all returns to me: walls, corners,
the huddle of shoes, a clumsy painting,
the anchor of my hips, the placid crater left
by my skull when I sit upright.
I always stay where I am.

*

All the talk is the talk of the broken world,
but is it not perilously whole,
the rupture barely held at bay?:

the young men contorted and curled around
the rungs of the heaving bus,
the laden shelves, the pregnant planes,
the pavement only a way to thicken the skin
of the thing, the thing,
the earring a mere adornment of the barrier,
the graffiti simply a remark about the stone,
the meniscus of the milk trying only
to imitate the pan as it gets hotter on the stove.

Where is the end?
What will it take for the surfaces to soften?
For the edges to fracture?
Will you be of any help to me?

We drink from the lip of the bottle,
spill foam in a negligible film across the table,
shift against the wicker of the chairs,
touch knees as our bones wait
in their warm denim sheaths.

The lemons,
sliced across their bellies
and arranged in a little bowl,
are the only proper violation of the day.

*

Your hands on my face,
all the skin of your hands on all the skin of my face, like air.
Your rusted cars,
your shouted dreams,
your uniforms,
your burning trash,
your almond sweets,
your dust.
Your trust.
Your paling knees
and calloused feet.
Your knives,
your veins,
your barricades.
Your mint,
your tea,
your weed with all the windows shut,
your shuttered eyes,
your poisoned dogs,
your pomegranates and their jewels
pulped into juice.
The shudder of your coming
like another kind of loss subsumed,
another kind
of unshared,
unsparing,
momentary grace.

§

Mezcolanzas

La casa siempre es una casa nueva,
y el idioma no es casi nunca el mío.
Incluso cuando me decido a hablar,
aún no estoy preparada.

*

Tus frutas
y tus piedras,
las piedras de tus frutas,
tus bosques arruinados,
los bosques de tu ruina––
y tu desolación,
tus caballos escuálidos,
tu viento,
tus ventanas,
tus encurtidos,
tus frutillas improbables,
tus láminas de pan––
tus nudillos sangrantes
tus fuentes agotadas,
tus montañas modestas,
tus llantas arrumbadas,
lo que quedó de tu paciencia,
tu tristeza y su tráfico––

*

Me hallo en buena salud.
Me hallo en camino.
Me hallo impaciente.
Me hallo en una ciudad que todo el tiempo arrasan hasta los cimientos.
Me hallo en el baño del subsuelo de un shopping center con paneles de vidrio.
Me hallo incapaz de soportar hasta la idea de olvidar
cómo pasás tus manos sobre toda mi cara,
cómo con toda la piel de tus manos
tocás toda la piel de mi cara, como si fuera aire.
Me hallo privada de mi idioma, acá.
Me hallo molesta por el desnivel de la vereda
entre aquello que hacemos y lo que no.
Y dónde.
Y cómo tropezamos por ahí.

¿Y dónde estás?
¿En cuál estás de todos los absurdos innumerables de la intimidad,
con los que me refiero a la geografía,
a la memoria y a los aeropuertos
y al aire?

*

Las colinas desnudas
forman un arco, exhalan hacia donde
van las rutas––

el cielo quiere que
se acerquen, pero
no les permite entrar.

Las rutas son delgadas,
tensos recordatorios, arañazos
de uñas sobre la piel,

que parecen decir: “Más adelante
seguirás recordando
lo que te hice”.

*

¿Quién sos, que te chupás la sal de los dedos en casa del vecino?
¿Quién sos vos, que dormís mientras se escuchan tiros?
¿Quién sos vos, que se niega a traducir lo que escribís sobre mi espalda?
¿Quién sos vos, que llorás al insultar al policía?
¿Quién sos vos, que dejás que me levante de la mesa mientras el arroz sigue en la olla
al fuego, entre nosotros?

*

Tus escobas,
tu lavandina,
tus techos testarudos,
tus gatos y sus gritos,
el brusco volantazo de tu amabilidad,
tu desdén generoso–
tus bufandas,
tu sudor,
los eternos atajos empolvados de tu arrepentimiento––
tus tormentas de arena de deseo,
tus incendios cansados,
tus caños de metal,
tus higos inflamados,
tus ojos rojos,
tu insistencia en ser el primero en marcharse
o el último en quedarse––
tus puertas oxidadas,
tus masas hojaldradas,
tu risa,
el cigarrillo sin filtro de tu fe––
tus funerales a la medianoche,
tus camiones furiosos,
tu furia,
tu respiración cuando dormís,
tus máscaras,
tu lujuria––

*

De pronto, nos hallamos en la cama, después de haber estado a punto de hacer algo diferente, como ir al lavadero. Pronto me hallo al borde de un precipicio a gran altura, pensando estremecida cómo será llegar al fondo ––me hallo ya casi destrozada al momento del impacto, el golpe ya se siente como un golpe, el dolor ya es dolor y la alegría, alegría––; y, temblando en las puntas de los pies de mi respiración, me hallo llorando, mi cara cerca de la tuya; tu cara de repente se parece a la mía, sólo en su desconcierto, rogándote, casi exigiéndote: “¿Cómo hago para estar donde estás vos?”.

*

La casa siempre es una casa nueva,
y las cortinas aún no están colgadas,
y duermo de manera honesta y turbia, me despierto a menudo,
sin ninguna intuición de a qué distancia
me encuentro del océano o del choque que hubo en la autopista,
de la base militar o las huertas,
o de cualquier lugar más limpio o devastado, o inundado
de buganvilias, o que tenga
un cielo más cubierto de nubes que el de acá.
Con lentitud, todo regresa a mí: paredes y rincones,
zapatos encimados, una pintura torpe,
mi cadera y su ancla, el cráter apacible
dejado por mi cráneo al sentarme derecha.
Siempre me quedo en donde estoy.

*

Se la pasan hablado de que el mundo está roto,
¿pero acaso no está riesgosamente entero,
aunque amenace siempre con quebrarse?
––los muchachos que están despatarrados y apiñados
sobre los escalones del colectivo en movimiento,
los estantes colmados, los aviones
grávidos, el pavimento solamente un modo de endurecer la piel
de la cosa, la cosa,
el aro un mero adorno
de la barrera, los grafitis tan sólo un comentario
acerca de la piedra, los meniscos de la leche
apenas un intento por imitar la olla que se calienta al fuego.
¿Dónde está el fin?
¿Qué va a ser necesario para ablandar las superficies?
¿Para quebrar los bordes?
¿Vas a ayudarme en algo?Tomamos la cerveza del pico, derramamos
encima de la mesa espuma, que deja una película insignificante,
nos movemos rozando el mimbre de las sillas,
chocamos las rodillas mientras aguardan nuestros huesos
en la cálida vaina de sus jeans.Los limones,
cortados por sus vientres
y puestos en un bol,
son la única genuina violación del día.

*

Tus manos en mi cara,
y la piel de tus manos en la piel de mi cara, como aire.
Tus autos oxidados,
tus sueños a los gritos,
tus uniformes,
tu basura en llamas,
tus golosinas con sabor a almendra,
tu polvo.
Tu confianza.
Tus rodillas que van palideciendo,
los callos de tus pies.
Tus cuchillos,
tus venas,
tus barricadas.
Tu té,
tu menta,
tu porro que fumás con las ventanas bien cerradas,
tus ojos bien cerrados y tus perros
envenenados, tus granadas y sus joyas
hechas jugo.
Cómo te estremecés cuando acabás,
como si fuera otra pérdida reprimida,
otra forma de gracia momentánea
e implacable, que vos no compartís.

(traducción de Ezequiel Zaidenwerg)

§

Conflações

A casa é sempre uma nova casa,
e a língua raramente é a minha.
Mesmo quando decido falar,
estou despreparada.

*

Seus frutos,
suas pedras,
as pedras de seus frutos,
suas florestas arruinadas,
as florestas de sua ruína –
sua desolação,
seus cavalos raquíticos,
sua ventania,
suas persianas,
suas raízes em conserva,
seus morangos improváveis,
seu magro pão esticado —
suas juntas em sangue,
suas fontes em seca,
suas modestas montanhas,
seus pneus abandonados,
os resquícios de sua paciência,
o tráfego de sua mágoa.

*

Descubro-me com saúde.
Descubro-me a caminho.
Descubro-me impaciente.
Descubro-me numa cidade continuamente arrasada até o chão,
descubro-me no banheiro subterrâneo de um shopping
[ com paredes de vidro.
Descubro-me incapaz de tolerar até mesmo a ideia de esquecer
como você cobriu com suas mãos meu rosto,
como com toda a pele de suas mãos você toca
toda a pele do meu rosto, como ar.
Descubro-me sem uma língua aqui.

Descubro-me amargurada pela assimetria da calçada entre
o que fazemos e o que não fazemos.
E onde.
E como tropeçamos até lá.

E onde está você?

Em qual dos incontáveis absurdos de intimidade,
querendo com isso dizer geografia,
memória, aeroportos e ar,
está você?

*

As colinas desnudas
arqueiam-se, expiram aonde
vão as estradas –

o céu invoca-as
próximas, mas recusa
sua entrada.

As estradas são estreitas,
sobras tensas, arranhadas
como por prego na pele,

como se dissessem, depois
você ainda se lembrará
de tudo o que lhe causei.

*

Quem é você que lambe o sal de seus dedos na casa dos vizinhos?
Quem é você que dorme em meio aos tiroteios?
Quem é você que se recusa a traduzir o que soletra em minhas costas?
Quem é você que chora enquanto xinga o policial?
Quem é você que permite que eu deixe a mesa com o arroz ainda
quente na panela de permeio?

*

Suas vassouras,
seus alvejantes,
seus telhados teimosos,
seus gatos guinchantes,
os desvios selvagens de sua delicadeza,
seu generoso desprezo –
seus cachecóis,
seu suor,
o contornar poeirento sem fim de seu remorso –
suas tempestades de areia por seus anseios,
seus fogos cansados,
seus canos metálicos,
seus figos inchados,
seus olhos vermelhos,
sua insistência em ser o primeiro a partir,
ou o último a ficar –
seus lixões,
suas crostas de massa,
seu riso,
sua fé num cigarro sem filtro –
seus velórios à meia-noite,
seus caminhões raivosos,
sua raiva,
seu hálito enquanto dorme,
seus dentes no meu pescoço,
suas máscaras,
sua luxúria –

*

Descobrimo-nos fazendo amor, de repente, tendo estado a ponto de fazer outra coisa, como ir à lavanderia. Logo descubro-me cambaleando à beira de um precipício, altíssimo, tremendo já pelo que será chegar ao fundo – descobrindo-me já quase despedaçada ao impacto, o susto já susto, a dor já dor, a alegria já alegria – e, tremendo na ponta dos dedos do meu fôlego, descubro-me chorando, meu rosto próximo a seu rosto, seu rosto de repente semelhante ao meu tão-somente em perplexidade, implorando-lhe, quase exigindo, “Como posso juntar-me a você?”

*
A casa é sempre uma nova casa,
e as cortinas ainda por pendurar,
e eu durmo, honesta, obscura, acordando
muito e sem intuição da minha distância
até o oceano ou o desastre na rodovia,
até a base militar ou os pomares,
até algures mais limpo ou devastado
ou mais embebido de buganvílias
ou com entulhe de nuvens que aqui.
Devagar, relembro tudo: paredes, cantos,
o amontoado de sapatos, o quadro canhestro,
a âncora dos meus lábios, a cratera plácida
deixada por meu crânio quando me aprumo.
Sempre fico onde estou.

*

Tudo o que se fala é de um mundo partido,
mas não será perigosamente inteiriço,
a ruptura mal mantida à distância?:

os rapazes contorcendo-se e enrodilhados pelos
degraus do ônibus ondeante,
as prateleiras cheias, os aviões prenhes,
a pavimentação apenas uma maneira de engrossar a pele
da coisa, a coisa,
o brinco um mero adorno da barreira,
o grafitti apenas um comentário sobre a pedra,
o menisco do leite tentando apenas
imitar a panela enquanto esta se aquece ao fogão.

Onde está o fim?
O que será preciso para que se amoleçam as superfícies?
Para que as quinas fraturem-se?
Você será para mim algum auxílio?

Nós bebemos dos lábios da garrafa,
derramamos espuma sobre um filme dispensável na mesa,
viramo-nos contra o vime da cadeira,
nossos joelhos encostados enquanto os ossos esperam
em suas mornas bainhas de brim.

Os limões,
cortados à linha de seus ventres
e colocados numa pequena fruteira,
são a única violação adequada do dia.

*

Suas mãos no meu rosto,
toda a pele de suas mãos em toda a pele do meu rosto, como ar.
Seus carros enferrujados,
seus sonhos aos gritos,
seus uniformes,
seu lixo em chamas,
seus doces de amêndoa,
seu pó.
Seu dó.
Seus joelhos pálidos
e seus pés com calos.
Suas facas,
suas veias,
suas barricadas.
Sua menta,
seu chá,
sua maconha com as janelas todas fechadas,
seus olhos cerrados,
seus cães envenenados,
suas romãs e suas joias
amassadas até o sumo.
O tremor do seu ofego
como outra espécie de perda subordinada,
outra espécie
de uma indivisa,
implacável e
momentânea graça.

(tradução de Ricardo Domeneck)

.

.

.

Image

Wingston González is a poet, born in Livingston, Guatemala, in 1986. He has published the books “Los magos del crepúsculo [y blues otra vez] (2005)”, “Remembranzas del recuerdo” (2008), “CafeínaMC” (in two volumes: “segunda parte, la fiesta y sus habitantes”, 2010; “primera parte, la anunciación de la fiesta”, 2011), “san juan – la esperanza” (2013) and “Miss muñecas vudu” (2013). He has also written for the theater. Wingston González lives and works in Guatemala City. Original followed by English and Portuguese translations, made by Rose Simons (English) and Ricardo Domeneck (Portuguese). The English translation was included in “Palabras: Dispatches From The Festival De La Palabra”, organized by Yamile Silva.

§

Wingston González é um poeta guatemalteco, nascido em Livingston, em 1986. Publicou os livros “Los magos del crepúsculo [y blues otra vez] (2005)”, “Remembranzas del recuerdo” (2008), “CafeínaMC” (em dois volumes: “segunda parte, la fiesta y sus habitantes”, 2010; “primera parte, la anunciación de la fiesta”, 2011), “san juan – la esperanza” (2013) e “Miss muñecas vudu” (2013). Também escreveu para o teatro: “Autopsia de un resplandor”. Vive a trabalha na Cidade da Guatemala..Original seguido de traduções para o inglês e português, feitas respectivamente por Rose Simons e Ricardo Domeneck. A tradução para o inglês foi originalmente publicada em  “Palabras: Dispatches From The Festival De La Palabra”, organizada por Yamile Silva.

§

Wingston González  nació en Livingston, Guatemala, en 1986. Ha publicado los libros de poesía “Los magos del crepúsculo [y blues otra vez] (2005)”, “Remembranzas del recuerdo” (2008), “CafeínaMC” (en dos tomos: “segunda parte, la fiesta y sus habitantes”, 2010; “primera parte, la anunciación de la fiesta”, 2011), “san juan – la esperanza” (2013) y “Miss muñecas vudu” (2013). También ha escrito un libreto para teatro: Autopsia de un resplandor. Actualmente radica en ciudad de Guatemala. Poema original en castellano, seguido de la traducción de Rose Simons al inglés y de Ricardo Domeneck al portugués.

:

POEMA/POEM/POEMA

§

RETRATO CON MADONA, SANTOS Y GRANERO encuentras
cámara en mano, abrazas la sal del universo
la reproduces, la reescribes, deconstruyes
el sonido del agua cuando un cuerpo desespera

ñandús corren por tundra asombrosa
destrucción de pechos, presencias fijas, preguntas
cosas obvias, lugar exacto, sentido, palabra limpia
en brizna de paja, exaltada, una voz pregunta
porqué un ñandú correría por tundra si apenas
sé qué es tundra, si apenas, he imaginado ñandú, apenas
su imagen incompleta, su rasgo de plaga, ese
retrato que rompe este poema, la pequeña hermenéutica
de la plenitud difícil de los besos, de las fotografías
en la pared de tu cuarto, tus recuerdos
plenos de resonancias muertas, qué
qué significa ser pleno
si hay que romperlo todo, qué significa el verdor
tras puerta y nube de cigarrillos a dos centímetros del techo
dibujando un cuerpo, secando piel que suda
sombra del nosferatu, jóvenes británicos
pub fantasma del Yorkshire, arrabal maldito
posibilidad monstruosa, asomada
en el frontispicio de un cine que abandonamos
a fantasmas que nunca vieron estos pueblos, dentro
del vientre de una batalla contra imagen hundida
en sofás baratos, tv technicolor, de lado a la herencia
la miseria de pariente extranjero cuya calavera asoma
por el cierre de los pantalones mientras el agua golpea
tus recuerdos, dispersos, el tiempo atípico
el leve simulacro de traducción que suena en las palabras
que escribo para ti, animal intraducible
cuando en O brother where art thou brilla arrodillado
ese mismo muchacho, dentro de la canción
de tres sepultureros negros cavando lluvia muy lejos
lejos
del lugar en que le encuentras, redundante, innecesario
bar alegre y oscura piedad, insolación adolescente irritable
le tiras
lazo, llamada telefónica, pantalla plasma
a él que no es valiente, que no es bravo, que jamás
amasa coraje para emborracharse y perder
el control que queda de la vida; maceta al océano

o hipopótamo que habla de amor cara a un ataúd
ya no sé, la vida, ya no sé dónde alzar
el niño mugriento que a las dos de la tarde
despierta un domingo y piensa
en el fondo ofendido de esta ciudad, en esta marcha
que exhibe el espectro imantado
de mi cabello agua, cabello luz, cabello placidez municipal
factura incendiaria que baila como el mar

como una tabla de felicidad en un pueblo
que no habla bien
de la felicidad

:

PORTRAIT OF MADONNA, SAINTS AND BARN you encounter
camera in hand, you embrace the salt of the universe
you reproduce it, rewrite it, you deconstruct
the sound of water when a body despairs

rheas running through breathtaking tundra
destruction of breasts, presences fixed, you ask
obvious questions, exact location, meaning, clean words
on leaves of grass, exalted, a voice asks
why would a rhea run through tundra if i hardly
know what tundra is, if hardly, i’ve imagined rhea, hardly
its incomplete image, its trace of plague, that
portrait that breaks this poem, the little hermeneutics
of the difficult plenitude of kisses, of the photographs
on the wall of your room, your memories
full of resonances dead, what
what does it mean to be full
if you have to break it all, what does the greenery mean
behind door and cloud of cigarette smoke two centimeters from the
ceiling
drawing a body, drying skin that sweats
shade of the nosferatu, british teenagers
phantom pub of Yorkshire, damned suburb
monstrous possibility, leaning
on the frontspiece of a film that we abandon
to phantoms that never saw these towns, inside
the belly of a battle against sunken image
on cheap sofas, technicolor tv, at the side of heritage
the misery of distant relative whose skull sticks
through pant zipper as the water beats against
your memories, dispersed, the time irregular
the slight simulacrum of translation that sounds out the words
that i write for you, untranslatable animal
when in O brother where art thou that same man
shines on bended knee, inside the song
of three black gravediggers shoveling rain far away
far away
from the place where you encounter him, redundant, unnecessary
cheerful bar and dark piety, irritable adolescent insolation
you throw at him
lasso, telephone call, plasma screen
at him who is not valiant, who is not brave, who will never
summon the courage to get drunk and lose
the control that remains of life; flowerpot at the ocean

or hippopotamus who facing a coffin speaks of love
now i don’t know, life, now i don’t know where to raise
the filthy boy who at two in the afternoon
wakes up one sunday and thinks
about the offended soul of this city, about this march
that exhibits the magnetized spectrum
of my hair of water, hair of light, hair of municipal placidity
incendiary invoice that dances like the sea

like a trumpet of happiness in a town
that does not speak highly
of happiness

(translated by Rose Simons)

:

RETRATO COM MADONNA, SANTOS E CELEIRO você encontra
câmara na mão, abraça o sal do universo
a reproduz, a reescreve, desconstroi
o som da água quando o corpo se desespera

emas correm por tundra assombrosa
destruição de peitos, presenças fixas, perguntas
coisas óbvias, lugar exato, sentido, palavra limpa
folhas de joio, exaltada, uma voz pergunta
por que uma ema correria pela tundra se mal
sei o que é tundra, se mal imaginei a ema, se mal
sua imagem incompleta, seu traço de praga, esse
retrato que rompe este poema, a pequena hermenêutica
da plenitude difícil dos beijos, das fotografias
na parede de seu quarto, suas lembranças
cheias de ressonâncias mortas, o quê
que significa estar cheio
se há que quebrar tudo, o que significa o verdor
detrás de porta e nuvem de cigarros a dois centímetros do teto
desenhando um corpo, secando pele que sua
sombra do nosferatu, jovens britânicos
pub fantasma de Yorkshire, periferia maldita
possibilidade monstruosa, debruçada
no frontispício de um cinema que abandonamos
a fantasmas que nunca vieram a estas vilas, dentro
do ventre de uma batalha contra imagem afundada
em sofás baratos, tv technicolor, do lado da herança
a miséria de parente estrangeiro cuja caveira prende-se
ao zíper da calça enquanto a água golpeia
suas lembranças, dispersas, o tempo atípico
o leve simulacro de tradução que soa nas palavras
escrevo para você, animal intraduzível
quando em O brother where art thou brilha ajoelhado
esse mesmo menino, dentro da canção
dos três coveiros negros cavando chuva muito longe
longe
do lugar em que o encontra, redundante, inútil
bar alegre e piedade escura, insolação adolescente irritável
você lança
o laço, telefonema, tela plasma
a ele que não é valente, que não é bravo, que jamais
arruma coragem para embebedar-se e perder
o controle que resta da vida; vaso ao oceano
ou hipopótamo que fala de amor diante dum ataúde
já não sei, a vida, já não sei onde erguer
o garoto ensebado que às duas da tarde
acorda um domingo e pensa
no fundo ofendido desta cidade, nesta marcha
que exibe o espectro imantado
do meu cabelo água, cabelo luz, cabelo placidez municipal
nota fiscal incendiária que dança como o mar

como uma prancha de felicidade numa vila
que não fala bem
da felicidade

(tradução de Ricardo Domeneck)

.

.

.

 

marilia

Marília Garcia is a poet, editor, translator and professor, born in Rio de Janeiro in 1979. Her first collection of poems was published in 2001, called encontro às cegas (blind date). This was followed by 20 Poemas para o seu Walkman (20 Poems for your Walkman, 2007) and engano geográfico (error of geography, 2012). Her texts have been translated into German, English, French, Spanish and Swedish. She is the coeditor of the literary magazine Modo de Usar & Co.. Marília Garcia lives and works in São Paulo. Original poem, followed by translations in English (Hilary Kaplan) and Spanish (Paula Abramo).

§

Marília Garcia es una poeta brasileña (Río de Janeiro, 1979). Publicó los libros encontro às cegas (2001), 20 Poemas para o seu Walkman (2007) y engano geográfico (2012). Ha leído en vários festivales internacionales. Su trabajo ha sido editado en España, Francia, Alemania y Suécia. Vive y trabaja en São Paulo. Poemas originales seguidos de las traducciones al inglés (por Hilary Kaplan) y castellano (por Paula Abramo).

§

Marília Garcia é uma poeta, editora, tradutora e professora brasileira, nascida no Rio de Janeiro em 1979. Estreou em 2001 com a plaquete encontro às cegas. A este seguiram-se 20 Poemas para o seu Walkman (São Paulo/Rio de Janeiro: Cosac Naify/7Letras, 2007) e engano geográfico (Rio de Janeiro: 7Letras, 2012). Seus textos já foram traduzidos para o alemão, inglês, francês, espanhol e sueco. Ela é coeditora da revista Modo de Usar & Co. Marília Garcia vive e trabalha em São Paulo. Poema original, seguido da tradução de Hilary Kaplan para o inglês e de Paula Abramo para o castelhano.

:

POEMA/POEM/POEMA

é uma lovestory e é sobre um acidente
Marília Garcia

primeiro, a cena congelada
um dedo pousa no vidro,
a tela vibra.

você lembra o que
disse na hora? você gritou? doeu?
você lembra do que aconteceu?
a curva, a chuva, um clarão.

(depois ela acabou,
foi embora para belfast.)

você lembra o que disse na hora
em que o carro deslizou?
três horas na chuva esperando,
a curva, o estrondo, você lembra?
você entre as ferragens
perguntando o que houve.

(mas isso é um acidente
e é sobre uma lovestory.)

o amor, diz, é um efeito especial
pensa que viu tudo
mas quando acende a luz
os pontos
cegos se espalham:

uma fossa abissal, uma nuvem
de distância e uma cidade chamada Vidro ou
Vértice
Volpi ou Verdi

o amor é alguém entrando
na geometria da sua mão

neste momento atravessa o corredor:
– não há mais isso entre nós,
de onde o timbre da sua voz
um efeito-estertor

(dentro do poema
pode sentir o efeito
e nessa hora todos os porquês
ficam guardados
em concha)

o amor é isso, diz,
não um corvo
mas um impermeável vermelho
pendurado na janela vindo de outro poema
para tocar na sua tela.
é você comendo o amarelo que sobrou
depois do estrondo.

o amor é este olhar que mancha
a retina na hora da emergência
um olho cinzento que treme
sempre que muda
de hemisfério.

“é difícil olhar as coisas
diretamente”
elas são muito luminosas
ou muito escuras.

2/3 deste país são feitos de água
e sempre que se vira, um
afogamento.
apenas um mergulho,
dizia a imagem. vamos ver o deserto,
andar pelo centro do mundo?

mas isso é um dicionário
e é sobre uma lovestory.

lovestory,
de a-z

a curva, a chuva, um clarão
a curva, o estrondo, você lembra
a retina na hora da emergência
a tela vibra
afogamento
apenas um mergulho
cegos se espalham
centro do mundo
de distância e uma cidade chamada vidro
de hemisfério
de onde o timbre da sua voz
dentro do poema
depois do estrondo
depois ela acabou
diretamente” elas são muito
disse na hora? você gritou? doeu
dizia a imagem, vamos para
dois terços desse país são feitos de água
e é sobre uma lovestory
e é sobre uma lovestory
e nessa hora todos os porques
e sempre que se vira
é difícil olhar as coisas
é você comendo o amarelo
em concha
em que o carro deslizou
ficam guardados
foi enviada para belfast
luminosas
mas isso é um acidente
mas isso é um dicionário
mas quando acende a luz
na geometria da sua mão
na janela vindo de outro poema
não há mais isso entre nós
não um corvo mas um impermeável
neste momento atravessa o corredor
o amor é um efeito especial
o amor é alguém entrando
o amor é este olhar que mancha
o amor é isso
os pontos
ou muito escuras
para tocar na sua tela
pensa que viu tudo
perguntando
pode sentir o efeito
primeiro a cena congelada
sempre que muda
três horas na chuva esperando
um dedo pousa no vidro
um efeito-estertor
um olho cinzento que treme
uma fossa abissal
uma nuvem
vermelho pendurado
vértice
você entre as ferragens
você lembra do que aconteceu
você lembra o que
você lembra o que disse na hora
volpi ou verdi

§

it’s a love story and it’s about an accident

at first, a frozen scene
a finger lands on the glass,
the screen trills.
do you remember
what you said then? did you yell? did it hurt?
do you remember what happened?
the bend, the rain, bright bang.

(then she ended,
sent to belfast)

do you remember what you said
as the car skidded?
three hours waiting in the rain,
the bend, the blast, remember?
you between the steel frames
asking what happened.

(but that was an accident
about a love story.)

love, you say, is a special effect
you think you’ve seen it all
but when the lights come on
the blind spots spread:
an ocean trench, a cloud
away and a city called Glass
or Vertex
Volpi or Verdi

love is someone getting into
your hand’s geometry

just then you cross the corridor
this is no longer between us
from where the labored timbre of your voice

(inside the poem
you feel the laboring effect
and all the whys echo
in a conch shell)

that’s love, you say,
not a crow but a red raincoat
hanging on a window, come from another poem
to play on your screen.
it’s you eating the yellow left
after the blast.

love is a look that stains
the retina in an emergency
a grey eye that trembles
when you cross hemispheres.

“it’s hard to look
directly at
things” they are too
bright or too dark.

two-thirds of this country is made out of water
every time you turn around, a
drowning.
just a dive,
said the image. let’s see the desert,
walk around the center of the universe?

but this is a dictionary
and it’s about a love story.

love story, a-z

a finger lands on the glass
a grey eye that trembles
about a love story
after the blast
an ocean trench
and all the whys
and it’s about a love story
as the car skidded
asking what happened
at first
away
bright
but that was an accident
but this is a dictionary
but when the lights come on
do you remember
do you remember what happened
do you remember what you said
directly
drowning
every time you turn around
from where the labored timbre of your voice
hanging on a window
in a conch shell
inside the poem
it’s hard to look
it’s you eating
just a dive
just then you cross the corridor
love, you say, is a special effect
love is a look
love is someone getting into
not a crow but a red raincoat
or vertex
said the image
sent to belfast
that’s love, you say
the bend, the blast, remember
the bend, the rain, bright bang
the blind spots spread
the retina in an emergency
the screen trills
then she ended
things
this is no longer between us
three hours waiting in the rain
to play on your screen
two-thirds of this country is made out of water
volpi or verdi
walk around the center of the universe
what you said then
when you cross hemispheres
you between the steel frames
you feel the laboring effect
you think you’ve seen it all
your hand’s geometry

(translated by Hilary Kaplan)

§

es una lovestory y es sobre un accidente

primero, la escena congelada
un dedo se posa en el vidrio,
la pantalla vibra.

¿recuerdas qué
dijiste en ese instante? ¿gritaste? ¿dolió?
¿recuerdas qué pasó?
la curva, la lluvia, un relámpago.

(luego ella acabó
se fue a Belfast)

recuerdas qué dijiste en el instante
en que el coche derrapó?
tres horas en la lluvia esperando,
la curva, el estruendo, ¿recuerdas?
tú entre los hierros
preguntando que había pasado.

(pero esto es un accidente
y es sobre una lovestory.)

el amor, dices, es un efecto especial
piensas que lo has visto todo
pero cuando enciendes la luz
los puntos
ciegos se esparcen:

una fosa abisal, una nube
de distancia y una ciudad llamada Vidrio o
Vértice
Volpi o Verdi

el amor es alguien entrando
en la geometría de tu mano

en este momento atraviesas el corredor:
—ya no hay eso entre nosotros,
de donde el timbre de tu voz
un efecto-estertor

(dentro del poema
puedes sentir el efecto
y en ese instante todos los porqués
quedan guardados
en su concha)

el amor es esto, dices,
no un cuervo
sino un impermeable rojo
colgado en la ventana salido de otro poema
para tocar tu pantalla.
eres tú comiéndote el amarillo que quedó
después del estruendo.

el amor es esta mirada que mancha
la retina en el instante de la emergencia
un ojo grisáceo que tiembla
cada que cambia
de hemisferio.

“es difícil mirar las cosas
directamente”
son muy luminosas
o muy oscuras.

2/3 de este país están hechos de agua
y cada que se voltea, un
ahogamiento.
sólo una zambullida,
decía la imagen. ¿vamos a ver el desierto,
a caminar por el centro del mundo?

pero esto es un diccionario
y es sobre una lovestory.

lovestory de la a a la z

ahogamiento
cada que cambia
centro del mundo
ciegos se esparcen
de distancia y una ciudad llamada vidrio
de donde el timbre de tu voz
de hemisferio
decía la imagen, vamos a
dentro del poema
después del estruendo
¿dijiste en ese instante? ¿gritaste? dolió
directamente son muy
dos tercios de este país están hechos de agua
el amor es alguien entrando
el amor es esta mirada que mancha
el amor es esto
el amor es un efecto especial
en concha
en este momento atraviesas el corredor
en la geometría de tu mano
en la ventana salido de otro poema
en que el coche derrapó
eres tú comiéndote el amarillo
es difícil mirar las cosas
la curva, el estruendo, ¿recuerdas?
la curva, la lluvia, un relámpago
la pantalla vibra
la retina en el instante de la emergencia
los puntos
luego ella acabó
luminosas
no hay eso entre nosotros
no un cuervo sino un impermeable
o muy oscuras
para tocar tu pantalla
pero cuando enciendes la luz
pero esto es un accidente
pero esto es un diccionario
piensas que lo has visto todo
preguntando
primero la escena congelada
puedes sentir el efecto
quedan guardados
recuerdas qué
recuerdas qué dijiste en el instante
recuerdas qué pasó
rojo colgado
se fue a belfast
sólo una zambullida
tres horas en la lluvia esperando
tú entre los hierros
un dedo se posa en el vidrio
un efecto-estertor
un ojo grisáceo que tiembla
una fosa abisal
una nube
vértice
volpi o verdi.
y cada que se voltea
y en ese instante todos los porqués
y es sobre una lovestory

(traducción de Paula Abramo)

.

Picture 7
Dolores Dorantes is a Mexican poet, born in Veracruz in 1973. She has published, among others, Poemas para niños (1999), Para Bernardo: un eco (2000)Lola: cartas cortas (2002), sexoPUROsexoVELOZ (2004), Estilo (2011) and Querida Fábrica (2012). Dolores Dorantes lives and works in Los Angeles. She has read in several festivals and was published in the United States in the volume sexoPUROsexoVELOZ & Septiembre, A Bilingual Edition of Books 2 and 3 of Dolores Dorantes, trans. Jen Hofer  (Counterpath Press and Kenning Editions, Denver and Chicago, 2008). Original poems, followed by English translations (Jen Hofer) and Portuguese translations (Ricardo Domeneck). All poems taken from her book Estilo (2011).

§

Dolores Dorantes es una poeta mexicana (Veracruz, 1972). Publicó los libros Poemas para niños (1999), Para Bernardo: un eco (2000), Lola: cartas cortas (2002), sexoPUROsexoVELOZ (2004), Estilo (2011) y Querida Fábrica (2012), y ha leído en vários festivales internacionales. Su trabajo ha sido editado en los Estados Unidos en el libro sexoPUROsexoVELOZ & Septiembre, A Bilingual Edition of Books 2 and 3 of Dolores Dorantes, trans. Jen Hofer  (Counterpath Press and Kenning Editions, Denver and Chicago, 2008). Vive y trabaja en Los Angeles. Poemas originales seguidos de las traducciones al inglés (por Jen Hofer) y portugués (por Ricardo Domeneck). Poemas sacados de Estilo (2011).

§

Dolores Dorantes é uma poeta mexicana, nascida em Veracruz em 1973. Publicou os livros Poemas para niños (1999), Para Bernardo: un eco (2000), Lola: cartas cortas (2002), sexoPUROsexoVELOZ (2004), Estilo (2011) e Querida Fábrica (2012),  e participou de vários festivais internacionais. Seu trabalho foi editado nos Estados Unidos no volume sexoPUROsexoVELOZ & Septiembre, A Bilingual Edition of Books 2 and 3 of Dolores Dorantes, trans. Jen Hofer  (Counterpath Press and Kenning Editions, Denver and Chicago, 2008). Dolores Dorantes vive e trabalha em Los Angeles. Originais seguidos das traduções para o inglês (por Jen Hofer) e português (por Ricardo Domeneck). Poemas extraídos do volume Estilo (2011).

:

POEMAS/POEMS/POEMAS

“17.-Territorio sin puerto, tierra sin paradero, cuerpo de corazón vacío. Lugar desangrado nosotras todas tuyas corriendo. Todas corriendo para entrar en ti. Somos un mar de nenas desnudas. Felices en medio de los alaridos. Llegamos a tu pecho. Armadas con máscaras de niña y lenguas de animal. Casi te mueres. Más que este territorio de la incertidumbre. Somos tuyas. Para tu voluntad y queremos lo nuestro. Vamos avanzando, acomodándonos ahí. Calentando ahí. Corremos como corren la sangre y las lobelias del miedo. Entramos igual que la frescura. Nos colocamos ordenadamente como militares o joyas.”

“17.-Territory with no harbor, territory with no stopping place, body with empty heart. Place drained of blood we are all yours running. All running to enter you. We are a sea of naked girls. Happy in the midst of the howling. We get to your chest. Armed with girl masks and animal tongues. You nearly die. More than this territory of uncertainty. We are yours. For your will and we want what is ours. We’re moving along, arranging ourselves there. Heating it up there. We run like blood runs and the lobelias of fear. We enter like cool air. We place ourselves tidily like soldiers or jewels.”

“17. Território sem porto, terra sem paradeiro, corpo de coração vazio. Lugar dessangrado nós todas suas correndo. Todas correndo para entrar em você. Somos um mar de moçoilas nuas. Felizes em meio às gritarias. Chegamos a seu peito. Armadas com máscaras de menina e línguas de animal. Você quase cai morto. Mais que este território da incerteza. Somos suas. Por sua vontade e queremos o que é nosso. Vamos avançando, nos acomodando por aí. Esquentando aí. Corremos como corre o sangue e as lobélias do medo. Entramos assim como o frescor. Nos posicionamos de forma ordeira como militares ou joias.”

§

“20.-Da la vuelta y el cielo abre la boca. Has desparecido entre nosotras. Este es un libro que no existe. Te tenemos rodeado. Cielo y muerte. Cielo y sangre. Perfección y dolor. Somos tuyas cuando tú crees que nos devoras. Somos tuyas con la boca cerrada. Instrumentos de tu fonación. No nos diferenciamos. Saltamos en el aro del cielo. Somos espacio y somos superficie. El cielo tiene un cuerpo que camina. El camino se ha cubierto de sangre.”

“20.- Turn around and the sky opens its mouth. You have disappeared among us. This is a book that does not exist. We’ve got you surrounded. Sky and death. Sky and blood. Perfection and pain. We are yours when you believe you’re devouring us. We are yours with our mouths closed. Instruments of your phonation. We do not differentiate. We jump through the hoop of the sky. We are space and we are surface. The sky has a body that walks. The path has been covered in blood.”

“20.- Dê a volta e o céu abre a boca. Você desapareceu entre nós. Este é um livro que não existe. Você está cercado. Céu e morte. Céu e sangue. Perfeição e dor. Somos suas quando você crê que nos devora. Somos suas com a boca fechada. Instrumentos da sua fonação. Nós não nos distinguimos. Saltamos no aro do céu. Somos espaço e somos superfície. O céu tem um corpo que caminha. O caminho cobriu-se de sangue.”

§

“29.-Hemos llegado como la negación para que nos extermines en el intento. Tienes que decidir. Cuál medida mental. Con qué lapso y a cuánta intermitencia. Piensa en el tiempo. Lo de todos los días. El tiempo genera preguntas para niñas. La distancia genera medidas para niñas. Nos da lo justo. Las niñas llevamos tu máscara de presidencia perfecta. Cantamos como niñas y enseñamos la lengua de animal. Las niñas —sin fierro y sin madera— trabajamos como flores esclavas, acumulando miel. Estamos como lluvia de pétalos encantadora. Que nos visiten. Que admiren el milagro de caminar sobre las niñas y sobre su sangre. Que vivan el cielo caminando.”

“29.-We have arrived like negation so you can exterminate us in the attempt. You have to decide. Which mental measure. With which lapse and at what interval. Think of time. As you do every day. Time generates questions for girls. Distance generates measures for girls. It gives us what’s fair. We, the girls, wear your mask of perfect presidency. We sing like girls and we stick out our animal tongues. Girls – without iron and without wood – work like slave flowers, collecting honey. We are like an enchanting rain of petals. May they visit us. May they admire the miracle of walking over the girls, over their blood. May they experience the sky walking.”

“29.- Chegamos como a negação para que nos extermine na intenção. Você tem que decidir. Que medida mental. Com que lapso e qual a intermitência. Pense no tempo. O que todos os dias. O tempo gera perguntas para meninas. A distância gera medidas para meninas. Doa-nos o justo. Nós meninas levamos sua máscara de presidência perfeita. Cantamos como meninas e mostramos a língua de animal. As meninas – sem ferro e sem madeira – trabalhamos como flores escravas, acumulando mel. Estamos como chuva de pétalas encantadora. Que nos visitem. Que admirem o milagre de caminhar sobre as meninas e sobre seu sangue. Que vivam o céu caminhando.”

Image

Yanko González is a Chilean poet, translator and anthropologist, born in Buin in 1971. He has published, among others, Metales Pesados (1998), Héroes Civiles & Santos Laicos. Palabra y periferia: trece entrevistas a escritores del sur de Chile (1999) and Alto Volta (2008). Yanko González has read in festivals from Buenos Aires to Berlin and teaches at the Universidad Austral de Chile. Original poems, followed by English and Portuguese translations.

§

Yanko González es un poeta, traductor y antropólogo chileno (Buin, 1971). Publicó los libros Metales Pesados (1998), Héroes Civiles & Santos Laicos. Palabra y periferia: trece entrevistas a escritores del sur de Chile (1999), Alto Volta (2008), y ha leído en Buenos Aires, Berlín y otras ciudades. Yanko González es professor en la Universidad Austral de Chile. Poemas originales seguidos de las traducciones al inglés y portugués.

§

Yanko González é um poeta, tradutor e antropólogo chileno, nascido em Buin em 1971. É professor na Universidade Austral de Chile e publicou os livros Metales Pesados (1998), Héroes Civiles & Santos Laicos. Palabra y periferia: trece entrevistas a escritores del sur de Chile (199) e Alto Volta (2008). Fez leituras em cidades como Buenos Aires e Berlim. Originais seguidos das traduções para o inglês e português.

:

POEMAS/POEMS/POEMAS

gremio
Yanko González

Fui donde Morgan y le dije:
dame este retrato mío que tienes en la cabeza.
No te enojes -me dijo-
ya te lo doy.
Se abrió la testa y me lo dio.
Después fui donde Taylor :
Edward ese retrato mío que tienes en la cabeza
dámelo
Estás enfermo –dijo-
Me impacienté le di un palo
le abrí el cráneo y saqué mi retrato.

Boas escuchó el grito y vino corriendo:
pero hijo mío ¿qué has hecho?
Cayó otra víctima
Se lo abrí y saqué mi retrato.

Me visitó la Mead:
Maggie dame ese retrato mío que tienes en la cabeza.
Se abrió el cráneo y me lo dio.
Busqué a Ruth y mudo
le partí el cráneo con un fierro
le saqué mi fotografía blasfemando
Con el cráneo abierto
Como abierta le dejé la puerta de su casa.

(Se me cruzó Evans
Con su mismo rifle le destapé los sesos usurpándole mi imagen)

Volví y estaban todos almorzando

Claude L. S. y el Polaco
Se levantaron y sin siquiera saludarme
se abrieron sendos cráneos y me dieron el retrato
haciéndome una venia.
Partí a donde todos mis “amigos”.

Se había corrido la voz y no tuve ningún inconveniente
Me saludaban amablemente
Mientras con la otra mano me daban mi retrato
Yo les decía al mismo tiempo “gracias”
Y les cerraba su cráneo con deferencia.

Al séptimo día me fui a Ninguna Parte
Con mi bolso de cuero y lana repleto de fotografías
Me empiné como pude
Y las puse sobre una nube que pasaba y les prendí fuego.

Volví de una carrera
Los busqué uno por uno

Pero allí estaban todos

Con ese otro retrato mío en la cabeza.

:

guild
Yanko González

I went to Morgan and told him:
give me my portrait you have in your head.
Don’t get mad –he told me-
here take it.
He opened his head and gave it to me.
Afterwards I went to Taylor:
Edward, my portrait you have in your head
give it to me
You are sick –he said—
I lost patience and struck him
opened his skull and removed my portrait.

Boas heard the shouting and came running:
but my son, what have you done?
Another victim fell
I opened him up and removed my portrait.

Mead visited me:
Maggie give me my portrait you have in your head.
She opened her skull and gave it to me.
I looked for Ruth and silently
opened her skull with a crowbar
removed my blasphemous photograph
With her skull open
Open like I left the door of her house.

(Evans happened by
With his own rifle I uncovered his brains seizing my image)

I returned and everyone was there having lunch

Claude L.-S. and the Pole
Got up and without even saying hello
opened their seminal skulls and gave me the portrait
saluting me.
I left and went to my <<friends>>.

Word had traveled and I had no problem
They greeted me amiably
While with the other hand they gave me my portrait
<<thank you>> I told them at the same time
And I closed their skulls with deference.

On the seventh day I went to No Where
With my leather and wool bag rife with photos
I stood on my tiptoes as high as I could
And put them on top of a passing cloud and set them on fire.

I returned swiftly
I looked for them one by one

But they were all there

With another portrait of mine in their head.

(translated by Stephen Rosenshein)

:

Clube
Yanko González

Fui à casa de Morgan e lhe disse :
me dê este meu retrato que você tem na cabeça.
Não se aborreça – me disse –
aqui está.
Abriu a testa e me entregou.
Depois fui à casa de Taylor:
Edward este meu retrato em sua cabeça
devolva-o.
Você enlouqueceu – disse –
Me irritei dei-lhe uma paulada
abri seu crânio e tirei meu retrato.

Boas escutou o grito veio correndo:
Mas meu filho o que você fez
Caiu outra vítima
Abri-o e tirei meu retrato

Mead veio visitar-me
Maggie dê-me este meu retrato que você tem na cabeça
Abriu o próprio crânio e o entregou.
Procurei por Ruth e mudo
rachei seu crânio com um ferro
tirei minha fotografia blasfemando
Com o crânio aberto
Como deixei aberta a porta de sua casa

(Passei por Evans
Com seu próprio rifle descobri seus miolos surrupiando minha imagem)

Voltei e estavam todos almoçando

Claude L.-S. e o Polonês
Levantaram-se e sem ao menos cumprimentar-me
abriram ambos crânios e me deram o retrato
fazendo uma mesura.

Parti em busca de todos os meus “amigos”

A notícia havia se espalhado e não tive qualquer inconveniente
Cumprimentavam-me educadamente
Enquanto com a outra mão me entregavam meu retrato
Eu dizia ao mesmo tempo “obrigado”
E fechava seus crânios com polidez.

Ao sétimo dia fui a Lugar Nenhum
Com meu bolso de couro e lã cheio de fotografias
Estiquei-me como pude
E as coloquei sobre uma nuvem que passava e ateei-lhes fogo

Voltei a toda velocidade
Procurei um por um

Mas lá estavam todos

Com esse outro retrato meu na cabeça

(tradução de Ricardo Domeneck)

§

que no quiere
Yanko González

“Que
no
quiere
morir
como
un
perro
nadie
quiere
morir
como
un
perro
todo
ser
humano
merece
no
morir
como
un
perro
ha
vivido
como
cerdo
y
no
quiere
morir
como
un
perro”

:

that he does not want
Yanko González

“that
he
does
not
want
to
die
like
a
dog
no
one
wants
to
die
like
a
dog
all
man
kind
deserves
not
to
die
like
a
dog
he
has
lived
like
a
pig
and
he
does
not
want
to
die
like
a
dog”.

(translated by Stephen Rosenshein)

:

que não quer
Yanko González

“Que
não
quer
morrer
como
um
cão
ninguém
quer
morrer
como
um
cão
todo
ser
humano
merece
não
morrer
como
um
cão
viveu
como
leitão
e
não
quer
morrer
como
um
cão”.

(tradução de Ricardo Domeneck)

Image

Ezequiel Zaidenwerg is an Argentinian poet and translator, born in Buenos Aires in 1981. He has published two collections of poems: Doxa (2008) and La Lírica Está Muerta (2011). He has translated Anne Carson, Ezra Pound, Robert Creeley, W.H. Auden, among others, and his poems have been translated and published in Germany, United States, Mexico and Brazil. Ezequiel Zaidenwerg lives and works in New York. Original poem, followed by English and Portuguese translations.

§

Ezequiel Zaidenwerg es un poeta y traductor argentino (Buenos Aires, 1981). Publicó dos libros de poemas, Doxa (2008) y La Lírica Está Muerta (2011). Tradujo Anne Carson, Ezra Pound, Robert Creeley, W.H. Auden, y ha publicado poemas en Alemania, Estados Unidos y México, Brasil. Ezequiel UZaidenwerg vive en Nuva York. Poema original seguido de las traducciones al inglés y portugués.

§

Ezequiel Zaidenwerg é um poeta e tradutor argentino, nascido em Buenos Aires em 1981. Publicou duas coletâneas de poemas: Doxa (2008) e La Lírica Está Muerta (2011). Traduziu Anne Carson, Ezra Pound, Robert Creeley, W.H. Auden, e teve poemas publicados na Alemanha, Estados Unidos, México e Brasil. Ezequiel Zaidenwerg vive em Nova Iorque. Poema original seguido das traduções para o inglês e português.

:

POEMA/POEM/POEMA

Doxa

Ezequiel Zaidenwerg

Me quedé y me olvidé de que tenía que haberme quedado,
trabajando, quizás. Y abrí los ojos, grande,
hice una carpa con los codos y el encuentro de las manos.
Puse la cara encima. Esa película abrasiva,
el halo capilar que empieza a titilarme entre las palmas, eso
no puede ser mi gloria. No me glorío en nada
que avise cuando va a manifestarse;
o nunca me glorié, o nunca supe en qué gloriarme,
y cómo. Y estos ojos,
la piel de la nariz, el caracol de los oídos,
el breve vaso de agua de la conciencia, eso,
sólo lo puedo ver cuando me miro en el espejo,
o lo ven los demás sin que yo mire,
o me miro en los otros. Y está bien que así sea,
supongo. ¿Adónde está mi roca,
me pregunto, mi fuerza, mi peñasco, entonces?
Tiene que haber alguna cosa en mí que brille más
allá de mí, o vaya a hacerlo alguna vez, o lo haya hecho,
quizás sin darme cuenta yo. Y se me ocurre algo:
cuando era un embrión, cuando me hicieron,
la bola de epitelio que intentaba, ajena a mí,
actuar la simple forma que era yo, miraba toda para afuera,
un tubo dado vuelta, dado vuelta de nuevo,
con el estómago y el hígado indistintos, y los oídos y la boca:
la misma superficie, un guante solo,
única esponja-flor posada sobre el mismo, único, eje,
fisonomía pura en el abigarrado aire del vientre de mamá.
Debía haber un brillo ahí que se perdió cuando la cara ya formada
se tragó todo el resto, cuando por un pudor que no me dieron a elegir
–¿acaso el artificio le reclama al artífice: “¿por qué me hiciste así?”?–
un resto de esa gracia se ocultó en las sucesivas dimensiones desplegadas,
aquel aumento sordo de espesor y de entidad
que me permitiría ver el mundo como un mundo, luego.
Y ahora estoy pensando en esa parte que quedó indigesta,
y hay algo que me arrastra, una corriente subcutánea o algo
menos solemne acaso, al nombre que me dieron
para darme la fuerza. Taparon con un nombre
irreprochablemente israelita una mitad de mí.
¿Qué era lo que querían, que supiera
que si quería ser más parecido a lo que fuera a ser,
iba a tener que ser distinto de eso?
Mi gracia: un trabalenguas perfectamente hebreo.
¿Acaso se trataba de algo así como un Scrabble de la identidad,
pensaban que a su hijo le darían más puntos en la vida
por tantas zetas y esa cu y la doble ve?
Si había alguna cosa en mí que no era idéntica a sí misma,
¿no era mejor, acaso, hacer visibles las costuras?
Si a fin de cuentas la matriz que me engendró
jamás escuchó hablar, de chica, sobre el ghetto,
ni tuvo que saber qué cosa es el exilio en carne propia
hasta que, bueno, se exilió papá.
Si además, fueron ellos los que me criaron,
los de la parte árabe, del Líbano,
católica, o católica a su modo, que borraron de mi nombre.
Ellos también tenían a su hijo en el exilio:
acaso también él estableció su alianza en el desierto,
y lo llevaron como a Elías. Pero pagó la sangre,
porque era de otro pueblo. Y el sarcoma
le recubrió la espalda como un mapa.
¿Querían que yo fuera su Eliseo, que tomara
las dos terceras partes de su gracia?
Hasta les daba, a veces, por llamarme con su mismo apodo.
Fue demasiado para mí, un árabe imposible;
para un judío errado, un circunciso fraudulento,
que consagró su alianza en el quirófano
con el celoso dios de la fimosis
(me acuerdo lo que era, una campana henchida,
un girasol de agua si orinaba).
Fue demasiado para mí. Pensé que era mejor hacer
como con una herida que quisiera suturarse desde adentro
para dejar la cicatriz cubierta y proteger mejor
la piel. Se me rompió de todos modos. Engordé y se me rajó,
como una copa de cristal muy burdo. Se llenó de estrías,
una retícula delgada, discontinua, sobre el plano vertical
de las axilas a las nalgas, mezcla del diseño
de un árbol genealógico desnudo de su fronda
y el mapa del genoma. ¿A qué o a quién
había que culpar, a la genética, a la frágil epidermis de mamá,
o a aquella fuerza primigenia desatada,
esa dispepsia primordial que haría de la indigestión
la principal de mis pasiones? La respuesta
pugnaba por caer en saco ciego, disfrazada de un confiado
escepticismo sin objeto que, después,
demostraría ser una nesciencia temerosa, replegada
sobre su propia falta: ¿la eludía o solamente
la estaba difiriendo? No sabía que sabía. Y elegí aferrarme
a la intuición, un poco frívola y pueril,
de que mi centro geográfico, mi casa, no podían ser
el fuelle alveolar y el abanico delicado del espíritu.
Y ahora, que me quedo y que me olvido, que clavé
mi tienda con los codos y los brazos, y la cara sumergida
entre las palmas, como un cántaro que cae dado vuelta
y que se quiebra, sin saberlo, al lado de la fuente,
estoy cayendo en una edad en la que necesito
un sustituto digno para el alma:
para ponerme en marcha, y recordar
y recordarme. Un sucedáneo digno de un prosélito
forzoso. Y el asiento de mi amor,
la sede de mi juicio, debe ser, por ende,
ese baluarte hepático, la gloria polvorienta
de mis antepasados, los que no volvieron:
el saco ponderal, la piedra hueca,
la copa sucia en la que se mezclaron.

§

Doxa
Ezequiel Zaidenwerg

I stayed and then forgot I must have stayed,
to work, perhaps. And opened my eyes, wide,
and shaped a tent, my elbows and the meeting of my hands.
Rested my face on top. That grating film,
the capillary halo that begins to twinkle in my palms,
that cannot be my glory. I don’t glory
in anything that warns before appearing;
or never gloried, or else never knew what I should glory in,
or how. And so these eyes,
the nose’s skin, the shell that is the ear,
the cup of water of the conscience, that,
I only see it when I see myself in the mirror,
or others see it when I can’t,
or else I see it in the others. I guess it’s fine
this way. Where is my rock,
I wonder, or my force, my boulder, then?
There must be something in me that outshines
me, or will do so, sometime, or has done so,
perhaps without my noticing. And something strikes me:
as an embryo, when they made me,
the ball of epithelium that tried, apart from me,
to act the simple form I was, looked outward,
a tube turned round, turned round again,
stomach and liver indistinct, and ears and mouth:
an equal surface, a single glove,
a lone sponge-flower posed upon the same, the only, axis,
no more than features from within the florid air of mother’s womb.
There must have been some brilliance there, then lost, when my created face
devoured all the rest, when from some prudery they didn’t let me choose
–and does the artifice entreat the artist, “Why did you make me so?”—
a remnant of that grace concealed itself in the spread of next dimensions,
that deaf accrual of thickness and of entity
that would permit me to perceive the world as a world, later.
And now I’m thinking of the part that stayed undigested,
and something pulls, a subcutaneous current or something
perhaps less solemn, at the name they gave me
to give me strength. With one impeccably Israelite name
they covered half of me.
What was it that they wanted me to learn:
that if I wanted to resemble what I would become,
I must be different from it in the end?
My name: a tongue twister, superbly Hebrew.
Perhaps it had to do with something like a Scrabble game of self,
and that they thought their son would win more points in life
for all those z’s, that q, the w?
If there were something in me not a likeness of itself,
was it not better, maybe, for the stitches to be visible?
If, in the end, my mother,
was never told, during her childhood, about the ghetto,
nor had to know what exile meant in her own flesh
until my father, well, exiled himself.
If, also, it was they who raised me,
the Arab side, from Lebanon,
Catholics, or Catholic in their way, erased from my name.
They, also, had their son in exile:
Perhaps, also, he formed his covenant in the desert;
he, like Elijah, was taken away. But then he paid for blood,
because he came from elsewhere. The sarcoma
covered his back as if it were a map.
Did they want me to be their own Elisha,
who would inherit two-thirds of his powers?
They even called me by his nickname, sometimes.
It was too much for me, impossible Arab that I was;
for a mistaken Jew, and fraudulently circumcised,
who, in the operating room, established
an affinity with the jealous god of phimosis
(I still remember what it was, a swollen bell,
a sunflower made of water if I peed.)
It was too much for me. I thought it would be better
to make as if I had some wound that would be stitched up
from the inside, to cover up the scar and so protect
the skin. It split anyway. And I fattened up and cracked
like a cheap crystal glass. I filled with stretch marks,
a slender grid, irregular, across the surface
from ass to armpits, a composite
of a sketched family tree stripped bare of leaves
and the genomic map. So whom or what
was there to blame—genetics, or the fragile epidermis of my mother,
or that unraveled primeval
force, that primordial dyspepsia that would make indigestion
my greatest passion? And the answer
was nowhere to be found, disguised as an ingenuous
objectless skepticism that, eventually,
would prove itself to be a fearful crassness,
retracted over its own lacking: was I avoiding
or deferring it? I didn’t know I knew. I chose to cling
to the presentiment, a little frivolous and puerile,
that my own home, my geographic center, could not have been
the alveolar pump, the gentle fan of the spirit.
And now, now that I stay and I forget, and have pitched
my tent with arms and elbows, and my face submerged
between my palms, a jug that falls, turned round,
and breaks, unknowingly, beside a fountain,
I’m falling toward an age in which I need
a decent stand-in for the soul:
to set myself in motion, to remember,
and remember myself. A worthy substitute
for a forced proselyte. And so the seat of my love,
the office of my judgment—it should be, therefore, that
hepatic bastion, and the dusty glory
of my own ancestors, the ones who didn’t come back:
the weighty sack, the hollow rock,
the dirty glass in which they mixed themselves.

(translated by Robin Myers)

§

Dóxa
Ezequiel Zaidenwerg

Fiquei e me esqueci de que teria que haver ficado,
trabalhando, talvez. E abri os olhos, muito,
fiz uma barraca com os cotovelos e o encontro das mãos.
Pus a cara em cima. Esta película abrasiva,
minha auréola capilar que começa a tremeluzir
entre as palmas, isso
não pode ser minha glória. Não me vanglorio em nada
que avise quando vai manifestar-se;
ou jamais me vangloriei, ou jamais soube com que me vangloriar,
e como. E estes olhos,
a pele do nariz, o caracol dos ouvidos,
o breve copo de água da consciência, isso,
só posso ver quando me olho ao espelho,
ou o veem os outros sem que eu perceba,
ou me percebo nos demais. E está certo que assim seja,
suponho. Onde, então, está minha rocha,
me pergunto, minha força, meu penhasco?
Tem que haver algo em mim que brilhe mais
para além de mim, ou vá brilhar alguma vez, ou
já o tenha, talvez sem me dar conta. E algo me ocorre:
quando era um embrião, quando me fizeram,
a esfera de epitélio que tentava, alheia a mim,
moldar a simples forma que era eu, olhava para fora,
tubo enrolado, e novamente enrolado,
com o estômago e o fígado indistintos, e os ouvidos e a boca:
a mesma superfície, uma só luva,
única flor-esponja pousada sobre o mesmo e único eixo,
fisionomia pura no ar bagunçado do ventre de mamãe.
Devia haver um brilho ali que se perdeu quando a cara já formada
engoliu todo o resto, quando por um pudor que não me foi dado escolher,
– por acaso a criatura protesta ao criador: “por que me fizeste assim?”? –
um resto desta graça ocultou-se nas sucessivas dimensões desdobradas,
aquele aumento surdo de espessura e entidade
que me permitiria ver o mundo como um mundo, em breve.
E agora estou pensando nesta parte que ficou indigesta,
e há algo que me arrasta, uma corrente subcutânea ou algo
quiçá menos solene, ao nome que me deram
para me dar força. Tamparam com um nome
irrepreensivelmente israelita uma metade minha.
O que era que queriam, que eu soubesse
que se quisesse assemelhar-me ao que viria a ser,
teria que ser diferente disso?
Minha graça: um trava-línguas perfeitamente hebreu.
Acaso tratava-se de algo assim como um Scrabble da identidade,
pensavam que dariam mais créditos na vida a seu filho
por tanto z e este q e o w?
Se havia alguma coisa em mim que não era idêntico a si mesmo,
não era melhor, talvez, deixar visíveis as costuras?
Se no fim das contas a matriz que me gerou
jamais ouviu falar quando criança sobre o gueto,
nem teve que saber na própria pele o que é o exílio,
até que, bem, meu pai se exilou
Se além disso foram eles que me criaram,
os da parte árabe, do Líbano, católica, ou católica a seu modo,
que apagaram do meu nome.
Eles também tinham filho no exílio:
talvez ele também estabelecera sua aliança no deserto,
e o carregaram como a Elias. Mas pagou o sangue,
porque era de outro povo. E o sarcoma
cobriu suas costas como um mapa.
Queriam que eu fosse seu Eliseu, que tomasse
os dois terços de seu dom?
Acontecia até que me chamassem por seu apelido, às vezes.
Era demais para mim, um árabe impossível;
para um judeu falso, um circuncizado fraudulento,
que consagrou sua aliança no quirófano
com o deus ciumento da fimose,
(lembro-me como era, um sino túrgido,
um girassol de água ao urinar).
Era demais para mim. Pensei que seria melhor fazer
como uma ferida que quisesse suturar-se por dentro
para deixar a cicatriz coberta e proteger melhor
a pele. Abriu-se de qualquer maneira. Engordei e rachou,
como uma taça de cristal barato. Encheu-se de estrias,
uma retícula fina, fragmentária, sobre o plano vertical
das axilas até os glúteos, mistura do desenho
de uma árvore genealógica desprovida de sua fronde
e o mapa do genoma. A que ou a quem
haveria de culpar, à genética, à frágil epiderme de mamãe,
ou àquela força primígena desencadeada,
esta dispepsia primordial que faria da indigestão
a principal de minhas paixões? A resposta
lutando por cair num apêndice sem saída, disfarçada de um crédulo
ceticismo sem objeto que, mais tarde,
demonstraria ser uma nescidade temerosa, redobrada
sobre sua própria falta: dela esquivava-me ou apenas
a adiava? Não sabia que sabia. E escolhi aferrar-me
à intuição, um pouco frívola e pueril,
de que meu centro geográfico, minha casa, não podiam ser
o fole alveolar e o leque delicado do espírito.
E agora, que fico e que me esqueço, que finquei
minha barraca com os cotovelos e os braços, e a cara submergida
entre as palmas, como um cântaro que cai virado
e se quebra, sem saber, ao lado da fonte,
estou caindo numa idade em que preciso
de um substituto digno para a alma:
para colocar-me em movimento, e lembrar
e lembrar-me. Um sucedâneo digno de um sectário
forçado. E o assento do meu amor,
o capitólio do meu juízo, deve ser, destarte,
este baluarte hepático, a glória empoeirada
dos meus antepassados, os que não voltaram:
o saco ponderal, a pedra oca,
o copo sujo em que se misturaram.

(tradução de Ricardo Domeneck)

Image

Lisa Jarnot is an American poet, born in Buffalo, New York in 1967. She is the author of four full-length collections of poetry: Some Other Kind of Mission (1996), Ring of Fire (2001), Black Dog Songs (2003) and Night Scenes (2008), plus a biography of Robert Duncan. City Lights has released her Joie de Vivre: Selected Poems 1992 – 2012. Lisa Jarnot lives in New York City. Original poem followed by translations into Spanish and Portuguese.

§

Lisa Jarnot es una poeta americana, nascida en Buffalo, Nueva York en 1967. Publicó cuatro libros poesía:  Some Other Kind of Mission (1996), Ring of Fire (2001), Black Dog Songs (2003) and Night Scenes (2008), así como una biografía de Robert Duncan. City Lights ha publicado su Joie de Vivre: Selected Poems 1992 – 2012. Lisa Jarnot vive en Nueva York. Poema original, seguido de las traducciones al español y portugués.

§

Lisa Jarnot é uma poeta norte-americana, nascida em Buffalo, estado de NOva Iorque, em 1967. Publicou quatro coletâneas de poemas: Some Other Kind of Mission (1996), Ring of Fire (2001), Black Dog Songs (2003) e Night Scenes (2008), assim como uma biografia do poeta Robert Duncan. City Lights lançou em maio deste ano seu Joie de Vivre: Selected Poems 1992 – 2012. Lisa Jarnot vive en Nova Iorque. Poema original, seguido das traduções para o espanhol e português.

:

POEM/POEMA/POEMA

For the nation
Lisa Jarnot

Inconsolable as I am,
as the trireme is
as the unspeakable,
the uneatable, and the
early morning drunks,
insolvable as the words
mind and civilization,
hopelessly romantic
as the poem or the
chicken soup, carcasses of
chickens torn to bits by
poets, carcasses of poets
torn to bits by war,
felicitations of holidays,
like they say, damaged
grammar and slaughtered
sheeps, shipward, toward
the category of massive
storm birds, of mind, of
misery, of the gentle familiar
phrase, totally bankrupt,
awesomely leaning leeward,
leaning lightward leaned
enclasped in leeward leaf.

§

Para la nación
Lisa Jarnot

Inconsolable como estoy,
como lo está el trirreme,
igual que lo indecible,
lo incomible, y los
borrachos matutinos,
tan insoluble como las palabras
mente y civilización,
romántica incurable
como el poema o la
sopa de pollo, esqueletos
de pollo hechos pedazos por
poetas, esqueletos de poetas
hechos pedazos por la guerra,
felices fiestas,
como dicen, gramática
estropeada y ovejas
masacradas, rumbo al barco,
hacia la categoría de los grandes
pájaros de tormenta, de la mente, de
la desdicha, de la frase
amable y familiar, totalmente insolvente,
con proa a sotavento,
con proa persistente hacia la luz
envuelta en una hoja amarga.

(traducción de Ezequiel Zaidenwerg)

§

Para a nação
Lisa Jarnot

Inconsolável como estou,
como está o trirreme,
como o inefável,
o incomestível, e os
bêbados da manhãzinha,
insolvível como as palavras
mente e civilização,
romântica incurável,
como o poema ou a
canja de galinha, carcaças
de galinhas feitas aos
pedaços por poetas, poetas
feitos aos pedaços por guerras,
parabéns pelas férias,
como dizem, gramática
massacrada e ovelhas
esquartejadas, às barcas, em
direção aos grandes pássaros
da tempestade, da mente,
da miséria, da frase familiar
e gentil, em plena falência,
pendendo em pasmo a sotavento,
pendendo à luz pendente
embrulhada em folha à proa.

(tradução de Ricardo Domeneck)